O Feminismo é uma dessas palavras odiadas e amadas em intensidades diferentes e, principalmente neste mês de março trazemos esta reflexão: por que há pessoas que temem tanto o feminismo e por que há outras tantas que depositam toda a sua confiança nele?
Provavelmente não há um meio-termo entre o medo e a esperança em torno de um movimento tão expressivo como o feminismo, assim como talvez não haja um equilíbrio entre o amor e o ódio que o atinge.
Tentar fazer com que as pessoas compreendam feminismo, seja como filosofia ou prática, pode ser um bom começo, mas talvez não seja suficiente se não houver também uma mudança de mentalidade da sociedade como um todo.
O que muito se verifica ainda hoje são lindos discursos no dia 08 de março e falta de continuidade no restante do ano. Ocorre que palavras bonitas não são suficientes para equilibrar a balança entre homens e mulheres.
É necessário que haja, ainda, uma verdadeira transformação cultural na sociedade. Quando você conhece e compreende todas as barreiras, desafios, exclusões e preconceitos enfrentados por alguém, você começa a ter empatia por essa pessoa. E a empatia é a porta de entrada da inclusão porque é ela que nos dá a consciência dos nossos privilégios.
Organizações públicas ou privadas, assim como políticos e pesquisadoressempre afirmam introduzir as questões de gênero em seus trabalhos e pesquisas. Praticamente não se nega a necessidade do enfoque nas “questões de gênero”, entretanto não se observa tal comportamento quando a palavra feminismo é mencionada.
A grande maioria das pessoas desconhecem o que é o feminismo em sua essência, suas lutas e realizações, bem como algumas pessoas simplesmente não querem entender o seu real significado.
Ao longo de sua história o feminismo foi alvo de campanhas negativas que fizeram com que a população de modo geral acreditasse ser este um inimigo e não um ideal que luta pelo reconhecimento de direitos e oportunidades para as mulheres e, com isso, pela igualdade de todos os seres humanos.
Sobre o feminismo, destaca Bell Hooks:
Uma multidão pensa que o feminismo é sempre e apenas uma questão de mulheres em busca de serem iguais aos homens. E a grande maioria desse pessoal pensa que feminismo é anti-homem. A incompreensão dessas pessoas sobre políticas feministas reflete a realidade de que a maioria aprende sobre feminismo na mídia de massa patriarcal.
Em linhas gerais e de maneira simples, o feminismo é um movimento social de luta pela igualdade de condições entre homens e mulheres, no sentido de que ambos tenham os mesmos direitos e as mesmas oportunidades.
Ao contrário do que muitos pensam, não é o oposto de machismo, uma vez que este é uma construção social que promove e justifica atos de agressão e opressão contra as mulheres. Já o feminismo luta exatamente contra as manifestações do machismo na sociedade.
Não, as mulheres não lutam para serem melhores que os homens ou para ter mais direitos que eles. O que se busca é a igualdade de gêneros. Que as mulheres possam ter as mesmas oportunidades e direitos disponíveis aos homens.
O feminismo tem uma longa história como movimento social e citamos algumas das conquistas ao longo dos anos:
• 1827: brasileiras conquistaram autorização para estudar o ensino elementar;
• 1932: voto feminino;
• 1962: sancionado o Estatuto da Mulher Casada que, entre outras coisas, instituiu que a mulher não precisaria mais da autorização do marido para trabalhar;
• 2006: sancionada a Lei Maria da Penha, uma das conquistas mais celebradas contra a violência doméstica;
• 2015: sancionada a Lei do Feminicídio, que colocou a morte de mulheres no rol de crimes hediondos;
• 2018: importunação sexual feminina passou a ser considerada crime.
Como se pode verificar a luta pelos direitos das mulheres está acontecendo em termos práticos, mas ainda de forma muito lenta.
No entanto, fica clara a importância do movimento feminista no Brasil e no mundo, que por conta de sua força crítica é capaz de impugnar, criticar, desestabilizar e mudar essa relação díspar e injusta ao qual as mulheres são diariamente submetidas.
Muitos pensam que feminismo se trata de um bando de mulheres bravas que querem ser melhores que os homens. Essas pessoas nem pensam que feminismo tem a ver com a aquisição de direitos e oportunidades iguais.
Quando alguém aponta algo que você faz de errado a sua tendência é se defender, não é mesmo? Isso acontece com os homens quando falamos de feminismo.
O ideal é demonstrar não só que o feminismo não é contra os homens, mas ao contrário, oferece boas ferramentas para que eles se repensem no mundo. Homens e mulheres foram ensinados, desde crianças, que existiam atividades e atitudes para meninos e para meninas e não é tão fácil mudar este cenário.
Mulheres aprenderam que devem se comportar “como menina”, desde a forma como se senta até uma habilidade mais pronunciada para cuidar da casa e dos outros. Já um menino deve ser forte, viril, menos emotivo que as meninas, entre outros tantos lugares comuns.
Então é importante também frisar que:
Machismo, violência, ausência de cuidado com si mesmo e o outro não são elementos da natureza do homem.
Embora historicamente ser mulher significava ter menos oportunidades e direitos, elas aprenderam ao longo dos anos a reivindicar um lugar não subutilizado, reforçando a necessidade de serem respeitadas não apenas como esposas, mães ou filhas de alguém.
Assim, o movimento feminista demonstrou como diferentes questões – a sub-representação das mulheres na política, a desigualdade salarial entre homens e mulheres, a violência doméstica e familiar e o trabalho doméstico, por exemplo – precisam ser enfrentadas para a construção de sociedades mais justas e igualitárias.